Saco cheio mesmo!

Em janeiro de 2022, 544.541 pessoas decidiram abandonar seus trabalhos, de acordo com o recorte da LCA Consultores, a partir de microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Maior número dos últimos oito anos, quando em janeiro de 2014, foram 542.685 pedidos de demissão.

Segundo especialistas, muitos trabalhadores estão procurando um outro estilo de vida, principalmente por conta do trabalho remoto.Quem estuda o mercado de perto acredita que estamos diante de mais uma versão da desigualdade brasileira.

“A gente está vivendo um grande desemprego. Estamos vivendo uma situação de grande necessidade de criação de novos postos de trabalho, mas a gente também tem em comum um grande estresse sobre a força de trabalho das empresas. Nós não somos mais as pessoas que nós éramos em fevereiro, março de 2020. Nenhum de nós. As pessoas realmente começaram a buscar alternativa, a gente começou a perceber que a gente perdia muito tempo em deslocamento, perdia muito tempo trabalhando de uma maneira imprópria e sem sentido, isso fez claramente com que as pessoas repensassem a sua vida, repensassem o seu trabalho”, diz Marco Tulio Zanini, pesquisador da EBAP-FGV em entrevista ao Jornal Nacional

“No começo da pandemia muita gente foi demitida. Elas tinham conta para pagar. E nesse primeiro momento, entre receber nada e receber alguma coisa, elas acabaram procurando esses empregos. Agora, num segundo momento de crise, as pessoas elas tentam se reinserir no mercado recebendo o que elas recebiam antes, de acordo com suas qualificações. E o segundo ponto porque tem pessoas que estão procurando um outro estilo de vida, empregos melhores, muito por conta do trabalho remoto”, complementa Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.

 

Segundo o pesquisador Anthony Klotz, essa marca nada mais é do que a materialização de uma tendência chamada de “A Grande Renúncia”.

Ela consiste em uma mudança gradual e natural que vinha acontecendo no mercado de trabalho, com um número de pedidos de demissão que aumentavam a cada ano. Com a chegada da pandemia, e toda a instabilidade que ela trouxe, muitas pessoas decidiram se manter em seus empregos, mesmo querendo deixá-los. Então, tendo o avanço da vacinação e início do controle do problema, com a baixa do número de óbitos, todas essas demissões represadas finalmente aconteceram, criando esse número histórico. Dessa forma, temos um cenário bastante enigmático pois, ao passo que registram milhões de desempregados, também temos milhares de pessoas que estão se demitindo voluntariamente.

A exaustão do trabalhador

Sabemos que a pandemia afetou a saúde mental da maioria da população, no mundo todo. Somando toda essa crise sanitária mundial a um descontentamento no ambiente de trabalho, o resultado da equação é bastante simples: pedir demissão.

Recusa em voltar para trabalho presencial

Durante a pandemia, muitas empresas adotaram o trabalho remoto para manter suas atividades em andamento. Isso provou que muitos setores podem funcionar perfeitamente à distância.

Contudo, com a retomada das atividades, há um grande o número de empresas que pretendem retornar ao trabalho presencial. Por outro lado, é inferior o número de trabalhadores dispostos a isso. De fato, para a maioria das pessoas, trabalhar em casa é muito vantajoso, economiza horas de deslocamento em transportes públicos e aumenta a flexibilidade da rotina de trabalho, entre muitos outros benefícios.

Quando confrontados com a volta iminente aos modelos de trabalho pré-pandemia, que em alguns casos envolvem grandes tempos de deslocamento, excessos de processos e reuniões cansativas e por vezes desnecessárias, houve quem preferisse não voltar, em nome de mais qualidade de vida.

Resolveram empreender

Com a evolução das tecnologias digitais e a facilidade cada vez maior de vender online, muitos arriscam-se a abandonar empregos formais para empreender por conta própria. Mesmo com a pandemia, o Brasil registrou crescimento de 6% na abertura de empresas em 2020, e 8,4% de aumento no número de MEIs.

Saco cheio mesmo!

Mas esses dados talvez escondam algo que muitos ainda não gostam de falar abertamente: grande parte dos pedidos de demissão nesse mesmo período estão ligados à mais pura insatisfação com o trabalho. Desafio você a apontar uma pessoa que não conheça alguém que se demitiu desde o início da pandemia simplesmente por estar de s… cheio.

É verdade que a pandemia deixou todos com nervos à flor da pele, e que a pressão para manter as empresas de pé diante de uma das crises mais graves da história recente não ajudou em nada, mas há um outro fator por trás disso tudo que é a conscientização por parte de algumas pessoas de que o trabalho não pode ser a única razão de sua existência.

Pandemia jogou luz sobre necessidade de propósito no trabalho

Trabalhar sem saber o porquê ou para quem não está entre as prioridadesdos trabalhadores da geração Y, os millennials, que hoje são a principal força de trabalho na maioria das empresas, seja nos cargos mais operacionais, até as posições de gerência ou executivas.

Acontece que a pandemia e a forte ameaça que ela colocou sobre a vida e a saúde das pessoas deixou ainda mais em evidência essa necessidade de propósito: se não tenho mais nenhum controle sobre o que está por vir, sobre minha própria saúde e bem-estar, então por que estou gastando todas as minhas energias e tempo nessa rotina de trabalho que não me faz feliz?

Olhando por esse lado, não fica difícil de entender pessoas que abriram mão de maiores salários e de assumir responsabilidades no trabalho em troca de uma vida mais simples e essencialista. Entre as tantas coisas que a pandemia nos ensinou, muitas delas bastante amargas, está a de que o tempo é um bem que não é reposto ou recuperável. Logo, é necessário aproveitá-lo da melhor maneira possível, de preferência em um trabalho que faça sentido ou traga algum senso de realização pessoal para você.

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